sábado, 2 de fevereiro de 2013

A poesia na sala de aula - Sílvia C. M. Trevisani



Amar:
Fechei os olhos para não te ver
e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada nasceram sussurros
e palavras mudas que te dediquei...
O amor é quando a gente mora um no outro.

A poesia é muito mais que um texto, é a arte de brincar com as palavras. Sensibiliza e precisa ser cultivada. Acredita-se que a leitura do gênero poético seja o caminho para um futuro melhor, pois, além de despertar a imaginação e a fantasia da criança, o incentivo à leitura resulta no melhor aproveitamento da criatividade e inspira a busca pela identidade.
O contato com o livro de poesias desperta os sentidos e provoca a expressão corporal, musical e artística. Para que isso se torne possível, o professor precisa definir para si o que é a poesia, para logo passar esse mundo lúdico para o aluno. 

A prática da leitura de poesia está esquecida na maioria das escolas e, se o professor não tiver o hábito de ler poemas e não criar possibilidades de criação e interação, dificilmente conseguirá despertar esse interesse em seus alunos e muito menos mostrar a importância que ela tem para o desenvolvimento da sensibilidade e do emocional do ser humano. 
A leitura e os trabalhos de poesias se fazem necessários para investigar as dificuldades dos alunos em interpretar e compreender o que o poeta transmitiu em versos. E isso não é só pela falta do conhecimento, mas pelo pouco contato que eles têm com ela.
É preciso aproximar e envolver a criança com a poesia para evitar as várias afirmações de que é de difícil interpretação; apenas requer mais cuidado e atenção para que ocorra um entendimento da mesma. O ensino da interpretação compreende o desenvolvimento de considerar conhecimentos dos vários sentidos que um texto poético proporciona. O contato constante com esses textos é uma forma para melhorar a aprendizagem, que engloba desde a pronúncia das palavras, o conhecimento de vocabulários chegando até na habilidade do uso da língua.

O conhecimento que se refere às noções e conceitos sobre o texto, e, por último, o conhecimento de mundo, que é adquirido naturalmente através das experiências, do convívio social, cuja apropriação, no momento oportuno, é também essencial à compreensão de um poema. Se estes conhecimentos não forem respeitados, a compreensão pode ficar prejudicada e de difícil interpretação.
Salienta Silva, que: “[...] o maior desafio dos professores resida na reaproximação do cognitivo com o afetivo. [...] ensinar a ler e, ao mesmo tempo, ensinar a gostar de ler. Amarrar a amalgamar as dimensões afetivas e cognitivas da leitura a partir de uma didática rigorosa e prazerosa, de sedução e encantamento. [...] Fazer que a passagem da ‘desconhecença’ para a ‘sabença’ seja gostosa, envolvente e impactante”. 

É necessário que o professor parta de uma leitura poética do mundo, fazendo da poesia motivo de apreciação lúdica e de motivação para a produção de intertextualidade e da relação existente entre textos diversos, da mesma natureza ou de naturezas diferentes e entre o texto e contexto e de muitas outras formas de criar com seriedade, mas brincando com as palavras.
Segundo Elias J. “[...] poesia é tudo que nos cerca e que nos emociona quando tocamos, ouvimos ou provamos, poesia é a nossa inspiração para viver a vida”. 

De acordo com Bachelard, a poesia requer profundo devaneio e memória: “[...] A criança enxerga grande, a criança enxerga belo. O devaneio voltado para a infância nos restitui a beleza das imagens primeiras”. “[...] A infância vê o mundo ilustrado, o mundo com suas cores primeiras, suas cores verdadeiras.”
Os poetas devem ser capazes de nos convencer de que todos os nossos devaneios de criança merecem ser recordados.
Produzir uma poesia infantil não é uma tarefa simples, o texto precisa ser bem construído, despertar a sensibilidade para conquistar e prender o interesse da criança e, ao mesmo tempo, mostrar a vida de uma forma mais poética, com maior liberdade para construir seu conhecimento.
Todas as estratégias capazes de estimular a sensibilidade são apropriadas, o interessante para isso é que seja frequentemente trabalhada para que ocorra um interesse por ela.
Abrir um livro de poemas e começar a ler de forma prazerosa pode ser uma forma de preparar o trabalho em sala de aula e, com isso, abrir uma porta e um caminho para chegar ao aluno e partilhar com ele da beleza da poesia. 

Silvia Trevisani: professora, psicopedagoga e escritora de Campinas SP.


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Monteiro Lobato - Cidadão Escritor Na sua maior parte, a obra de Monteiro Lobato é o resultado da reunião de textos escritos para jornais ou revistas. Comprometido com as grandes causas de seu tempo, o criador do Jeca Tatu engajou-se em campanhas por saúde, defesa do meio-ambiente, reforma agrária e petróleo, entre outros temas que continuam atuais. Ele arrebatava o público com artigos instigantes, que hoje, vistos de longe, constituem um precioso retrato de época, um painel socioeconômico, político e cultural do período. Dono de estilo conciso e vigoroso, com forte dose de ironia, utilizava uma linguagem clara e objetiva, compreensível ao grande público. Lobato revelou o mundo rural, então ignorado pelos escritores de gabinete que ele tanto criticava. “A nossa literatura é fabricada nas cidades”, dizia, “por sujeitos que não penetram nos campos de medo dos carrapatos”.

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Amigos de Infância

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Antônio era um menino muito travesso e inteligente. Era alto, magro e muito conversador. Gostava de trabalhar e usava sua inteligência para ajudar os colegas na escola. A outra virtude que ele tinha era brincar e jogar futebol, com seu amigo João.

Quando no início da fase escolar, se conheceram e começaram a conversar e trocar idéias de como compartilhar as atividades escolares e sem esquecer do tempo de jogar futebol.

No decorrer de seus estudos, Antonio teve a triste notícia que João iria mudar-se para outra cidade. O menino alegre tornou-se triste, não falava mais, pois perdeu uma grande amizade.

Com o Antonio percebeu que nunca estamos sós no mundo e cada um tem um caminho a seguir, por isso tratou logo de buscar outro amigo e sabia que família não se escolhe, mas amigos temos a obrigação de escolher, para que se possa ter uma vida com futuro promissor.

Antônio encontrou outros colegas que como ele gostavam de jogar futebol, tocar instrumentos musicais e fazer jogos e festinhas na casa dos pais.

Moral da História: Os bons devem se unir, para viver melhor e mais felizes.

CASA ARRUMADA

">Carlos Drummond de Andrade(1902-1987)

Casa arrumada é assim:

Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.

Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.

Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas...

Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:

Aqui tem vida...

Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras

e os enfeites brincam de trocar de lugar.

Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições

fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.

Sofá sem mancha?

Tapete sem fio puxado?

Mesa sem marca de copo?

Tá na cara que é casa sem festa.

E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.

Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.

Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante,

passaporte e vela de aniversário, tudo junto...

Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.

A que está sempre pronta pros amigos, filhos...

Netos, pros vizinhos...

E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca

ou namora a qualquer hora do dia.

Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.

Arrume a sua casa todos os dias...

Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...

E reconhecer nela o seu lugar.

Os clássicos da literatura infantil brasileira